Aliados 9 – A HISTÓRIA DE UM LOGÓTIPO COM HISTÓRIA E DE COMO DESENVOLVEMOS UMA IDENTIDADE NA BRANDSCAPE
Assim, construção de um logótipo na Brandscape, no processo de criação de uma marca, nunca é apenas um exercício de design é o trabalho de várias pessoas para além do designer. Um esforço em equipa que contribui para a criação de uma marca forte e distintiva.
Mas qual é o ponto de partida?
A existência de um novo logótipo ou de um redesign de uma identidade já existente deve-se à identificação de, pelo menos, uma necessidade.
O nosso caminho e a criação de um logótipo começam com a identificação da(s) necessidade(s) do cliente, aquilo que justifica a sua existência, um princípio básico e simples do design, mas que sustenta tudo, para nós um valor em si!
Não estamos a trabalhar para nós, não é um exercício de recriação de um qualquer designer, nem um tónico para o ego de ninguém aqui dentro ou a perspetiva de ganharmos prémios… é simplesmente para o cliente, para o ajudar a comunicar melhor, a vender mais ou a ter os resultados que está à procura com a sua marca. É a resposta a uma necessidade, seja ela qual for e que é sempre a primeira linha do briefing.
O briefing
“Se há atividade em que o cliente conta e muito é a do design.”
Esta fase nem sempre é fácil, muitas vezes temos a tentação de acreditar que deverá ser o cliente a dar-nos toda a informação, mas o briefing do cliente é uma parte pequena daquilo que para nós é um briefing esclarecedor.
Este inclui a “necessidade” e tudo o mais que o motiva a mudar e para onde quer ir. É uma ferramenta para alinhar, antes de mais expectativas entre agência e cliente e para nos ajudar a pôr a equipa a pensar pela cabeça do cliente… ou seja com conhecimento de causa.
Costumamos dizer, em especial aos designers mais novos, que pouco do que temos nas nossas cabeças, à partida, serve para a construção de uma marca. Temos os nossos gostos, as nossas referências e no máximo algumas luzes sobre aquela indústria, aquele mercado, produto ou marca. Quem realmente sabe e percebe do assunto é o cliente.
E se queremos alcançar uma representação gráfica daquele produto, negócio, associação, ideia, ideologia, produto ou o que for, temos de ouvir o cliente e concordar com ele num briefing construído por ele, em parte, mas com muito trabalho de pesquisa da nossa parte, acerca dele, do seu negócio, da sua indústria e dos seus concorrentes, entre outros.
Há alturas, porém, em que o cliente não sabe ou “não está para isso”, o que não retira importância a tudo isto, antes pelo contrário, na nossa atividade o cliente, a pessoa do cliente é de superior importância. Ele é o negócio, representa a cultura da empresa, então temos de o conhecer a fundo e até, se possível, criar uma enorme empatia com ele.
A pesquisa
Este trabalho, por vezes profundo, de pesquisa para um melhor conhecimento do projeto e do cliente, leva-nos a “cavar” mais fundo à procura de outras referências, de aspetos históricos relevantes, etc.
Cada cliente, cada marca é um caminho distinto, a recolha de material para construir a marca e desenhar o logótipo é sempre diferente. É importante irmos para um trabalho destes com muita segurança do que está em causa, mas ao mesmo tempo com uma enorme abertura de espírito e com as vistas largas.
Mas para esta ousadia não dar mau resultado, é importante estarmos munidos de muitas referências, de muita história e de muito conhecimento. E já agora, conhecer os concorrentes e perceber as boas práticas e regras do mercado, nem que seja para as quebrar…
É preciso conhecer e acima de tudo entender o mais possível, tudo o que nos guiou e nos levou até ali, até aquele briefing.
O desafio Aliados9
O desafio de desenvolver um logótipo para um empreendimento que é mais do que um simples prédio, foi por nós encarado com entusiasmo e ao mesmo tempo cautela.
Considerado um dos mais importantes projetos urbanísticos da primeira metade do século XX em Portugal, marcado pela coerência, linguagem eclética de influência Beux Arts, quer ao nível do desenho urbano geral, quer ao nível dos edifícios, o “prédio”, originalmente apelidado de “A Nacional” é uma presença marcante na avenida dos Aliados e na cidade.
Assim, o logótipo de um dos mais emblemáticos edifícios da cidade do Porto, que marcou uma época e deixou uma marca na cidade que vai muito para além da sua edificação e presença física, tem de ser mais do que uma ferramenta para o cliente vender apartamentos.
Para ter sucesso tem de “vender” mais coisas, a história, uma época e um estilo… A forma como abordámos foi a de fazer uma viagem no tempo e de saber tudo sobre o edifício e do seu “designer”, o arquiteto neste caso e perceber, como as pessoas pensavam e até como eram feitas as coisas na época, para sermos o mais genuínos possível.
Este logótipo tinha de ser a “ilustração” de uma história, de uma época e de um legado, que começou num projeto, muitos anos antes e que tem agora esta página, a sua reabilitação para habitação.
A nossa pesquisa.
Os logótipos e o movimento Beaux-Arts
O nosso primeiro pensamento foi pensar como seriam os logótipos na época, o que os distinguia, como eram pensados e que recursos gráficos usavam.
Na altura do movimento Beaux-Arts (a corrente de design do próprio edifício) o conceito moderno de logótipo ainda não se tinha desenvolvido completamente. No entanto, observámos algumas influências indiretas do Movimento Beaux-Arts em elementos de identidade visual e emblemas usados por organizações e instituições da época.
Embora esses exemplos não sejam logótipos no sentido contemporâneo, eles podem mostrar algumas características estilísticas do movimento.
Estes são alguns exemplos:
Brasões institucionais: muitas instituições, como universidades, clubes e organizações, usavam brasões ou emblemas que apresentavam uma estética ornamentada e detalhada. Esses brasões frequentemente incluíam elementos como escudos, ornamentos florais, animais estilizados e detalhes arquitetónicos, que podem refletir a influência do Movimento Beaux-Arts na busca por uma estética clássica e grandiosa.
Marcas comerciais: alguns produtos e marcas comerciais da época adotaram elementos estilísticos semelhantes aos do Movimento Beaux-Arts nas suas identidades visuais. Por exemplo, marcas de produtos de luxo, como perfumes ou produtos de moda, poderiam usar fontes ornamentadas, detalhes decorativos e elementos clássicos nas suas embalagens ou rótulos.
Logótipos de instituições culturais: museus, galerias de arte e instituições culturais da época frequentemente usavam elementos visuais que se inspiravam na estética clássica e ornamentada do Movimento Beaux-Arts. Isto poderia incluir o uso de tipografias elegantes, elementos arquitetónicos estilizados, como colunas ou arcos, ou detalhes decorativos à volta do nome da instituição.
Referências da época
Na época não havia logótipos de empreendimentos imobiliários, daí termos focado a nossa pesquisa em logótipos de marcas premium, pois era este o posicionamento que queríamos para a nossa marca. Exemplos de logos clássicos da época:
Cadillac: O logótipo da Cadillac, introduzido em 1902, apresenta um brasão com uma coroa no topo. Esse elemento icónico representa prestígio, nobreza e luxo.
Michelin: introduzido pela primeira vez em 1898, apresenta uma figura arredondada e alada chamada Michelin Man ou Bibendum. Embora não possua uma forma elegante e graciosa, representa um ícone de marca reconhecível e duradouro dessa época.
Peugeot: do final do século XIX, inclui um símbolo de leão heráldico. O leão significa força, poder e realeza, ecoando o espírito de grandeza.
Tiffany & Co.: este icónico logótipo apresenta uma caligrafia estilizada que representa elegância e sofisticação atemporais. Tem sido um símbolo de luxo e joalharia fina desde a sua fundação em 1837.
Chanel: o logótipo da Chanel foi projetado por Coco Chanel em 1925. É composto por duas letras “C” ousadas entrelaçadas que se espelham. As formas simples e fortes das letras evocam a elegância autoritária da simplicidade, baseada na filosofia de Coco de que “menos é mais”.
Cartier: este logótipo apresenta uma tipografia elegante e refinada, com um “C” distintivo que faz parte do nome da empresa. A Cartier é conhecida pela sua joalharia e relógios requintados, e o seu logotipo reflete o seu compromisso com a arte da luxuosa manufatura.
Louis Vuitton: reconhecido por todo o mundo, este apresenta as letras entrelaçadas “L” e “V” cercadas por um círculo. Este logótipo tem representado malas de viagem e acessórios de luxo desde a fundação da marca em 1854.
Rolls-Royce: além da Spirit of Ecstasy, o logótipo da Rolls-Royce em si também merece destaque. Apresenta duas letras estilizadas “R” dentro de um quadro circular, representando elegância, qualidade e a herança britânica da marca.
O novo logótipo
A Brandscape mais do que uma vez fez um trabalho de identidade com estas características. São exemplos o restaurante Tavares, um dos mais antigos restaurantes da Europa, fundado em 1784, e a Confeitaria Nacional, fundada em 1829.
Porque se trata de um imóvel com um valor patrimonial inestimável, a estratégia adotada pela equipa Brandscape foi procurar desenvolver um logótipo com os códigos, por um lado, da época e até com os recursos mais comuns então, como são a ilustração e o traço livre, e por outro tentar fazer representar o património plástico e arquitetónico na forma.
O objetivo era alcançar uma identidade moderna, mas clássica, que desse a sensação de que sempre existiu, de época e que foi recuperada e não feita de novo. Ou seja, inspirado no movimento Beaux Arts, que define a linha do edifício.
Em resumo, tentámos acompanhar o trabalho que a equipa de arquitetos que reabilitou o edifício se propôs fazer, mas ao nível da identidade gráfica, ie, e nas palavras destes “preservação dos elementos de valor significativo que constituem o edifício…”
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